Por Jéssica Caroline Araújo Silva*
Todo mundo quando viaja gosta de trazer uma lembrancinha para alguém. E existe uma infinidade de coisas a serem dadas para se lembrar daquela viagem especial. No entanto, além de chaveiros, roupas e equipamentos eletrônicos, muitos trazem comidas. Juntamente com esses alimentos, micro-organismos são transportados de uma localidade para outra e podem ser disseminados em uma nova região. Assim, os produtos de origem animal podem oferecer um sério risco de saúde pública para o seu local de destino.
Um recente estudo realizado nos dois principais aeroportos do Brasil – Guarulhos (SP) e Galeão (RJ) – conseguiu detectar a presença de bactérias em produtos de origem animal (sem um certificado sanitário) nas bagagens de passageiros aéreos internacionais. Dentre os vários tipos de produtos de origem animal apreendidos estavam: lácteos (queijo) e vários tipos de carne, como presunto, mortadela e salsichas. Os alimentos eram provenientes de diferentes tipos de animais, como gado, búfalo, cabra, galinha, lhama, coelho, kudu, ovinos, suínos e espécies de origens não identificadas (quando os pacotes estavam descritos com dialetos indígenas).
Um total de 322 produtos foram analisados microbiologicamente quanto à presença de diversos micro-organismos com potencial patogênico, como coliformes totais e termotolerantes, Staphylococcus aureus, Listeria monocytogenes e Salmonella. De uma maneira geral, a bactéria Escherichia coli (considerada um tipo de coliforme fecal) pode causar diarréia e infecções no trato urinário. Os Staphylococcus aureus são conhecidos como causadores de infecção a partir de lesões da pele e podem gerar uma bacteremia.
A Listeria monocytogenes pode causar meningite e é considerada de risco para imunocomprometidos, idosos, gestantes e neonatos. A Salmonella pode causar infecções entéricas.
Em relação às análises feitas no estudo, 48 produtos apresentaram algum tipo de contaminação: 40 estavam contaminados com coliformes fecais; 7 com S. aureus; 11 estavam com L. monocytogenes; e 1 com Salmonella.
Como demonstrado pela pesquisa, faz-se necessário uma constante fiscalização nos aeroportos internacionais visando impedir a introdução de agentes infecciosos que possam comprometer a saúde pública. Esse cuidado é especialmente importante em épocas de grande fluxo de pessoas, como por exemplo durante o maior evento esportivo mundial, os Jogos Olímpicos e Paralímpicos 2016 que serão sediados no Brasil.
* Jéssica Caroline Araújo Silva é mestranda do Programa de Pós Graduação em Microbiologia do Instituto de Microbiologia Paulo de Góes, Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Texto revisado por Caio Rachid.