Por Letícia Martimiano*

Cada vez mais a microbiota (conjunto de micro-organismos de um indivíduo) tem sido estudada e associada a diversos processos fisiológicos do nosso corpo. Já foi demonstrado que alterações na microbiota podem influenciar a obesidade, asma, diabetes tipo 1, propensão a alergias, doenças autoimunes e até mesmo a depressão. Em estudos recentes demostraram que alterações na população desses micro-organismos também podem estar relacionadas a ansiedade e ao estresse.

Pesquisadores então procuraram compreender como alterações na microbiota podem colaborar para disfunções no sistema nervoso central e assim serem capazes de contribuir para mudanças comportamentais do indivíduo. Para isso, montaram um experimento no qual submeteram ratos de laboratório a situações de estresse, e compararam com um grupo controle. Eles observaram que na microbiota de animais estressados havia uma queda na quantidade de Lactobacillus em relação à composição da microbiota dos animais normais.

Lactobacillus é um gênero de bactérias comumente chamadas de “bactérias do bem” por apresentarem funções visando o equilíbrio da microbiota. Por exemplo, em casos de uso de antibióticos a ingestão de Lactobacillus é positiva, pois recompõe a população microbiana intestinal e ajuda na síntese de algumas vitaminas importantes para nosso organismo, além de evitar a constipação e proteger contra algumas infecções. Essas bactérias são encontradas em alguns produtos fermentados, como muitos iogurtes e queijos, e em alguns alimentos probióticos, que são produtos contendo microrganismos vivos, que quando ingeridos podem promover efeitos benéficos.

Para confirmar o papel dos Lactobacillus na regulação do estresse, os pesquisadores ainda administraram a bactéria nos animais estressados, e notaram melhora no equilíbrio do organismo e correção dos comportamentos que eram induzidos pelo estresse.

Portanto concluíram que o estresse é capaz de causar uma mudança na composição da microbiota – pela diminuição dos níveis de Lactobacillus – e que ao tratar os animais estressados com esse gênero bacteriano, o animal apresenta uma melhora tanto no comportamento de estresse quanto no de ansiedade.

Possivelmente, os mecanismos observados nos ratos funcionam também em seres humanos. Sendo assim, fica a dica que o bom uso dos probióticos pode auxiliar para o bem-estar, agora com uma nova função de combater o estresse. Sabemos que a importância da microbiota na nossa vida é inquestionável. Visto isso, devemos sempre preserva-la e ajuda-la a manter-se em equilíbrio, para que possamos estar sempre bem.

Texto revisado e editado por Caio Rachid

*Letícia Martimiano faz graduação em Ciências Biológicas modalidade Microbiologia e Imunologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e desenvolve pesquisa na área de Imunologia.

Referência: Marin IA, Goertz JE, Ren T, Stephen SR, Onengut-Gumuscu S, Farber E, Wu M, Overall CC, Kipnis J, Gautier, A. Microbiota alteration is associated with the development of stress-induced despair behavior. Scientific Reports, 7:43859, 2017.

Bactérias anti-estresse?
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