Por Lais Feitosa Machado*

Parece enredo de filme de ficção científica, mas é vida real. Na natureza, há um grupo de fungos especializado em manipular o cérebro de formigas fazendo-as se comportarem como “zumbis”. São fungos do gênero Ophiocordyceps e essa história de cinema ocorre, normalmente, em cenários de florestas tropicais.

 Os fungos infectam, como parasitas, o corpo das formigas, dominam seus cérebros e manipulam os comportamentos destes insetos a seu favor. Fazem isso para assegurar sua sobrevivência e completarem de maneira ideal o seu ciclo de vida!

 Ao serem infectadas, as formigas saem de seus ninhos e vagam desordenadamente. Em seguida, são conduzidas a locais altos, com temperatura e umidade adequadas à dispersão dos fungos, como galhos e folhas de árvores. Nesses locais, os fungos induzem as formigas a se fixarem por meio de uma forte mordida e, em seguida, provocam sua morte. As mandíbulas das formigas garantem que seu corpo permaneça afixado ao local escolhido pelo fungo mesmo após a morte do animal.

 O fungo então domina totalmente o corpo das formigas e o envolve por inteiro com suas células, chamadas de hifas. As hifas atuam protegendo o precioso corpo do animal morto contra a invasão de outros micro-organismos que possam competir por espaço e nutrientes com o fungo parasita. Após alguns dias, os fungos emitem, na região da cabeça das formigas, uma grande haste contendo células especializadas chamadas de esporos, que funcionam de forma análoga a sementes de árvores. Uma vez que os esporos são liberados no ambiente, estão prontos para infectar novas formigas e dar continuidade ao ciclo de vida do fungo.

Formiga infectada pelo fungo Ophiocordyceps, com a haste para lançamento dos esporos. Foto: Reprodução – Jeff Cremer (http://imgur.com/gallery/W16hu)

 O comportamento desenvolvido pelos fungos das formigas zumbis é bastante curioso e chama muito a atenção dos cientistas. O que vemos aqui é o comportamento de um indivíduo sendo modificado como resultado do trabalho de um micro-organismo parasita. Ou seja, apesar do indivíduo que está sendo manipulado ser um inseto, ele representa comportamentos induzidos por um fungo. É um típico exemplo de evolução biológica conjunta, na qual o ciclo de vida de uma espécie está intimamente ligado a outra. Sorte nossa que a probabilidade desse fungo atingir a espécie humana, atualmente, é bastante remota!

*Laís Feitosa Machado é professora Adjunta da Universidade Federal do Vale do São Francisco – UNIVASF. Tem experiência em Microbiologia Ambiental, Ecologia Microbiana e Educação. Arre égua! Ninguém segura essa cearense multi-dotada e sempre disposta  a ajudar!

Texto revisado e editado por Caio Rachid

Referência: Andersen, S.B.; Gerritsma, S.; Yusah, K.M.; Mayntz, D.; Hywel-Jones, N.L.; Billen, J.; Boomsma, J.J.; Hughes, D.P. The life of a dead ant: the expression of an adaptative extended phenotype. The American Naturalist, V. 174, P. 424-433, 2009.

Os fungos e as formigas zumbis
Compartilhe:

Post navigation


Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *