Por Lais Feitosa Machado*
Parece enredo de filme de ficção científica, mas é vida real. Na natureza, há um grupo de fungos especializado em manipular o cérebro de formigas fazendo-as se comportarem como “zumbis”. São fungos do gênero Ophiocordyceps e essa história de cinema ocorre, normalmente, em cenários de florestas tropicais.
Os fungos infectam, como parasitas, o corpo das formigas, dominam seus cérebros e manipulam os comportamentos destes insetos a seu favor. Fazem isso para assegurar sua sobrevivência e completarem de maneira ideal o seu ciclo de vida!
Ao serem infectadas, as formigas saem de seus ninhos e vagam desordenadamente. Em seguida, são conduzidas a locais altos, com temperatura e umidade adequadas à dispersão dos fungos, como galhos e folhas de árvores. Nesses locais, os fungos induzem as formigas a se fixarem por meio de uma forte mordida e, em seguida, provocam sua morte. As mandíbulas das formigas garantem que seu corpo permaneça afixado ao local escolhido pelo fungo mesmo após a morte do animal.
O fungo então domina totalmente o corpo das formigas e o envolve por inteiro com suas células, chamadas de hifas. As hifas atuam protegendo o precioso corpo do animal morto contra a invasão de outros micro-organismos que possam competir por espaço e nutrientes com o fungo parasita. Após alguns dias, os fungos emitem, na região da cabeça das formigas, uma grande haste contendo células especializadas chamadas de esporos, que funcionam de forma análoga a sementes de árvores. Uma vez que os esporos são liberados no ambiente, estão prontos para infectar novas formigas e dar continuidade ao ciclo de vida do fungo.
O comportamento desenvolvido pelos fungos das formigas zumbis é bastante curioso e chama muito a atenção dos cientistas. O que vemos aqui é o comportamento de um indivíduo sendo modificado como resultado do trabalho de um micro-organismo parasita. Ou seja, apesar do indivíduo que está sendo manipulado ser um inseto, ele representa comportamentos induzidos por um fungo. É um típico exemplo de evolução biológica conjunta, na qual o ciclo de vida de uma espécie está intimamente ligado a outra. Sorte nossa que a probabilidade desse fungo atingir a espécie humana, atualmente, é bastante remota!
*Laís Feitosa Machado é professora Adjunta da Universidade Federal do Vale do São Francisco – UNIVASF. Tem experiência em Microbiologia Ambiental, Ecologia Microbiana e Educação. Arre égua! Ninguém segura essa cearense multi-dotada e sempre disposta a ajudar!
Texto revisado e editado por Caio Rachid