Por Antônia Ferreira*

A composição da microbiota (conjunto de micro-organismos) normal de um indivíduo é influenciada por suas características genéticas, por seu estilo de vida, por incidências de doenças, por sua exposição a medicamentos, entre outros fatores. Em condições normais, a microbiota se mantém relativamente constante e suas relações com seu hospedeiro são benéficas. No entanto, fatores externos, como o uso de antibióticos, stress, poluição, etc., podem desestabilizar a harmonia das relações entre a microbiota e o homem.

A barreira epitelial (a pele e o revestimento de órgãos) é um local onde grande parte da microbiota reside e protege o hospedeiro. No entanto, quando ocorre algum dano nessa barreira, o equilíbrio “homem X microbiota” é afetado, facilitando o aparecimento de doenças.

Recentemente, cientistas investigaram a relação do equilíbrio da microbiota com o câncer. Devido à sua capacidade de influenciar o metabolismo do hospedeiro e sua imunidade, a microbiota está envolvida na iniciação e/ ou progressão de vários tipos de câncer, tanto nas barreiras epiteliais como em tecidos sem micro-organismos. Assim sendo, a composição da microbiota pode também estar relacionada à eficácia de terapias anticâncer.

Na maioria dos casos de pacientes com câncer que são submetidos a terapias convencionais, os tumores se tornaram resistentes ao tratamento e apresentaram alta recorrência. Recentemente foi mostrado que uma abordagem terapêutica voltada para o sistema imunológico pode surtir efeito na terapia contra o câncer. A eficiência deste tipo de terapia, no entanto, pode variar de acordo com a resposta imune em diferentes pacientes e com diferentes tipos de tumores.

Como o equilíbrio da microbiota está intimamente relacionada ao sistema imunológico, cientistas sugerem que terapias que tenham como alvo alterações na microbiota podem aumentar a eficiência das drogas ou reduzir seus efeitos negativos.

A microbiota intestinal é uma das mais complexas e mais promissoras como alvo de tratamento. Alguns estudos recentes demonstram que ela regula o surgimento do câncer e a resposta imune antitumoral, tanto no intestino quanto em tecidos não intestinais. Para entender melhor, podemos dar o seguinte exemplo. A redução de bactérias benéficas do intestino, pode induzir células potencialmente patogênicas, fazendo com que um indivíduo que tenha predisposição venha a desenvolver a doença. Porém, os mecanismos envolvidos nesses processos ainda são pouco compreendidos.

O foco atual dos cientistas é descobrir que tipo de microbiota é a mais eficiente para atuar em cada condição clínica, identificando uma espécie ou um conjunto de espécies bacterianas que possam aumentar os efeitos positivos das terapias anticâncer e reduzir suas consequências negativas nos diferentes pacientes. Uma vez que esse conjunto de micro-organismos seja identificado, o desafio será descobrir como modificar a microbiota de cada paciente, de modo que a terapia anticâncer com foco na microbiota se torne um método personalizado e preciso de tratamento da medicina.

Texto revisado e editado por Laís Machado e Caio Rachid

*Antônia Ferreira é mineira, graduanda em Ciências Biológicas: Microbiologia e Imunologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e faz pesquisa em imunologia.

Referência:Roy, S.; Trinchieri, G. Microbiota: A key orchestrator of câncer therapy. Nature Reviews. p. 1-16, 2017.

Bactérias na luta contra o câncer
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